A COVID-19 E O FIM DO MUNDO...
A
pandemia da Covid-19 despertou em alguns segmentos da sociedade previsões de
que a segunda vinda de Cristo e o fim do mundo estão se aproximando. Que dizer?
Em
primeiro lugar, que o verdadeiro católico não se importa com tais previsões
alarmistas. E por que não? – Porque elas não têm fundamento algum. Com efeito,
é de fé que o Senhor Jesus virá de novo, como professamos no Credo, para julgar
os vivos e os mortos. Devemos, portanto, estar sempre preparados
espiritualmente (cf. Mt 24,44; 25,13; Mc 13,33-37); mas, ninguém sabe qual será
esse dia e essa hora (cf. Mc 13,32; At 1,7). Portanto, quem prevê o fim do
mundo – por ignorância ou má-fé (só Deus poderá julgar!) – fala sem saber o que
diz.
Aos
pregadores católicos a Igreja exorta: “Mandamos a todos os que estão, ou
futuramente estarão incumbidos da pregação, que, de modo nenhum, presumam
afirmar ou apregoar determinada época para os males vindouros para a vinda do
anticristo ou para o dia do juízo. Com efeito, a Verdade diz: ‘Não toca a vós
ter conhecimento dos tempos e momentos que o Pai fixou por Sua própria
autoridade’. Ninguém ouse predizer o futuro apelando para a Sagrada Escritura
nem afirmar o que quer que seja, como se o tivesse recebido do Espírito Santo
ou de revelação particular, nem ouse se apoiar sobre conjecturas vãs ou
despropositadas. Cada qual deve, segundo o preceito divino, pregar o Evangelho
a toda criatura, aprender a detestar o vício, recomendar e ensinar a prática
das virtudes, a paz e a caridade mútuas, tão recomendadas por nosso Redentor” (Concílio Ecumênico de Latrão V, 1516, in Dom Estêvão Bettencourt, OSB. Curso de Escatologia. Rio de Janeiro:
Mater Ecclesiae, 1993, p. 121-122).
Em
segundo lugar, devemos lembrar que o ser humano, abatido com os problemas de
seu tempo – e cada época os tem (doenças, guerras, fome etc.) –,
psicologicamente apela para uma intervenção retumbante do além aqui na terra.
Ora, tal apelo tem, quase sempre, o seu lado mórbido e pode, por conseguinte, levar
as pessoas a desatinos, incluindo, é claro, o suicídio. Estejamos muito atentos!
No
século V, por exemplo, dizia-se que o fim do mundo aconteceria no ano 500.
Alguns bispos pouco críticos deram crédito à falsa profecia e foram
acompanhados por parte dos fiéis. Na Síria, um grupo de famílias abandonou tudo
para viver como nômade pelas montanhas; no Ponto, homens e mulheres venderam os
bens à espera de Cristo e acabaram seus dias como mendigos, em completa miséria
(cf. Santo Hipólito de Roma. In Danielem
3,18-19). Tais absurdos se repetem, com maior ou menor intensidade, até os
nossos dias, especialmente por parte de correntes filosófico-religiosas mal
orientadas ou mais dadas à fantasia do que ao senso crítico e à lógica. Embora
supere a razão, a fé há de tê-la por base sob pena de tornar-se mera crendice
supersticiosa. Daí ser o fiel católico, sempre, chamado a dar as razões da sua
fé a quem as solicite (cf.1Pd
3,15).
Também
no ano 1000 tivemos contradições: 1) Fazendo eco aos fantasiosos, escreve
Augusto Fuschini sobre a passagem do ano 999 para o 1000: “Nesse dia, um pânico
profundo envolveu todos os espíritos. As igrejas encheram-se de fiéis, que
esperavam a catástrofe entre cantos e rezas; ora, por uma doce ironia da
natureza, a aurora do primeiro dia do século XI raiou esplêndida”. 2) Sobre os
que usaram da fé e da razão, escreve Gonçalves Cerejeira: “Os nossos velhos
cronistas mencionam algumas datas referentes ao século X e anteriores; nada
dizem, porém, sobre os terrores do ano mil... Numa carta de venda do ano de
999, estipula o vendedor que o comprador (que acaba de pagar em boa moeda uma
propriedade... que não tiraria proveito, na hipótese de terrores) a possua
firmemente por todos os séculos afora” (Pergunte
e Responderemos n. 333, fevereiro de 1990, p. 62-64). Em suma, o tempo era
o mesmo para todos, a forma de vivê-lo – com medo ou sem medo – é que mudava a
cada um.
Apliquemos,
portanto, essas lições do passado aos dias atuais, nos quais a Covid-19 causa
pânico, e nos manteremos serenos e firmes na graça de Deus. Afinal, disse o
Senhor Jesus: “No mundo tereis tribulações, mas tendes bom ânimo, eu venci o
mundo” (Jo 16,33). Coragem! Avante!
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