CONTEMPLAÇÃO E SACERDÓCIO: A OBRA APRECIADA POR PAULO VI
A Editora Molokai, de São Paulo, acaba de lançar o
precioso livro Contemplação e sacerdócio,
de Dom Jean-Paul Galichet, monge cartuxo francês, atualmente na Cartuxa Notre
Dame de Coreia, na Coreia do Sul.
A
primeira edição dessa oportuna publicação apareceu, em Roma, em 1965, na Angelicum (XLII,
p. 463-488), com o título, em
francês, Contemplation et sacerdoce, assinada por “Um
contemplativo”. Mais tarde, um padre dominicano acrescentou algumas notas de
erudição às originais do autor. Em sua publicação pela Grande Cartuxa, em 2008,
revelou-se seu autor: “Dom Jean-Paul Galichet, Professo de Chartreuse”. Em 2016
e, depois, em 2019, na Cartuxa de Maria Medianeira (Ivorá/RS) – com a aprovação
de seu autor, seguindo a edição original –, foi preparada uma aprimorada edição
em espanhol com o acréscimo de novas notas que ilustram a obra com textos
recentes do Magistério da Igreja e dos Estatutos Cartusianos (aprovados
pela Santa Sé em 1991), nos quais se faz referência também ao sacerdócio
batismal e ao ministerial (cf. p. 18).
Eis que, agora, surge, em um livro bem
estilizado, a tradução portuguesa dessa obra que segue, via de regra, a publicação
espanhola – realizada por um monge trapista da Abadia de Nossa Senhora de la
Oliva (Navarra) e dada à luz na conceituada revista Cistercium (XXVII,
pp. 201-223, 1976) –, mas em cotejamento contínuo com o texto original (cf. p.
19). Como brinde aos leitores de língua portuguesa, o livro traz cinco
apêndices: 1) o Discurso de São Paulo VI sobre a harmonia entre a consagração
sacerdotal e a da vida religiosa, de 18/11/1966; 2) a Carta Optimam partem, do mesmo Paulo VI, a Dom
André Poisson, então Prior de Chartreuse e Ministro Geral da Ordem Cartusiana,
de 18/04/1971; 3) a Homilia do Cardeal Robert Sarah, Prefeito da Congregação
para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, na cerimônia de ordenação
de 31 sacerdotes do Opus Dei, de 05/05/2018; 4) um breve vocabulário
filosófico-teológico elaborado pelo tradutor brasileiro a fim de ajudar os
leitores menos familiarizados a conceitos como analogia, pericorese, êxtase, processão, ação teândrica etc. e 5) uma lista das obras
dos monges cartuxos em português (cf. p. 77-103).
Entrando no âmago do livro, podemos dizer que
a Missa é o ato de amor do Verbo
Encarnado, Jesus Cristo. Sim, “o princípio central da Missa é um objeto
de inesgotável contemplação. Este princípio é a alma de Cristo ‘ungida’
(investida) pelo Verbo. É claramente a unidade vital da divindade e da
humanidade no ato de amor que é o sacrifício. O querer sacrificial do Verbo,
eficaz por si mesmo, dá ao querer sacrificial humano sua própria realidade, sua
profundidade de amor e sua eficácia; em virtude do qual, Jesus pode dispor de
si mesmo, entregar-se a Deus no nível de seu próprio ser. E simultaneamente,
este querer do Verbo assume, faz seu, integra em si mesmo este querer humano,
como outra expressão de si mesmo. E por uma espécie de movimento de reciprocidade,
o querer humano se perde no do Verbo em um grau que desafia a união
transformante dos maiores santos. Tal é a vida ‘teândrica’ de Cristo, na qual o
sacerdote participa como se verá. Tudo isso acontece na Missa” (p. 31-32).
Daí decorre a grandeza-serviço do sacerdócio
ministerial mesmo quando o padre celebra sem a presença de fiéis (cf. Mediator
Dei, 117-118 e Presbyterorum Ordinis,
13), como vemos na fala de Dom Galichet: “O sacerdote deve dar a Cristo, de
certa forma, ‘um querer sacrifical humano também’. Do ponto de vista eclesial,
o sacerdócio é uma função. Contudo, essa função é de uma característica muito
particular: implica, pois, em sua própria natureza uma união pessoal, isto é,
de pessoa a Pessoa, com o Verbo Encarnado: união de uma característica única e
sem analogia” (p. 32). Ainda: “o sacerdócio chama o monge a viver a sua vida
contemplativa mais em Cristo do que em si mesmo. E é, portanto, a forma suprema
de pertencer a Deus: reviver a de Cristo” (p. 70). Afinal, “a consagração
religiosa permite ser uma vítima perfeita sob o domínio de Deus: e esta vítima
imita, prolonga o estado do Homem-Deus que veio ele próprio para ser vítima” (p.
72).
Eis – com o prefácio de Dom Luiz Gonzaga
Fechio, Bispo de Amparo (SP) – um livro imprescindível aos clérigos, mas também
útil a religiosos e leigos.
Vanderlei de Lima, eremita de Charles de
Foucauld, é o tradutor de “Contemplação e sacerdócio”.
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