A MEDALHA DE SÃO BENTO
Aos que perguntam sobre a medalha de São Bento (cerca de 480-547) com suas muitas iniciais em latim este artigo oferece breve, mas consistente resposta.
São Bento muito se valia do sinal da cruz para afastar o mal. Daí a importância de relembrarmos, a partir da Escritura, a importância deste símbolo na vida cristã. Nos escritos do Novo Testamento, há referências à cruz em Mt 10,38; 16,24; Mc 8,34; Lc 9,23; 14,27; Gl 2,19; 5,24; 6,14; Ap 7,2 (cf. Ez 9,4); 1Cor 1,17-18. Na antiga Tradição, vemos Tertuliano († cerca de 220) escrever: “Quando nos pomos a caminhar, quando saímos e entramos, quando nos vestimos, quando nos lavamos, quando iniciamos as refeições, quando nos vamos deitar, quando nos sentamos, nessas ocasiões e em todas as nossas demais atividades, persignamo-nos a testa com o sinal da Cruz” (De corona militis, 3; cf. Hipólito de Roma. Tradição dos Apóstolos, 42). Atesta-se, assim, desde os inícios da Igreja, a estima pela Cruz do Senhor e o seu poder contra todo mal. Eis porque São Bento se vale da cruz e é, quase sempre, apresentado com ela na mão.
Dito isto, vejamos o que significam as iniciais latinas presentes na medalha do santo patriarca dos monges do Ocidente no seu verso, isto é, onde está a cruz. CSPB, entre as hastes da cruz, querem dizer Crux Sancti Patris Benedicti (Cruz do Santo Pai Bento). Na linha vertical, CSSML, Crux sacra sit mihi lux (A Cruz sagrada seja a minha luz). Na linha horizontal, NDSMD, Non draco sit mihi dux (Não seja o dragão o meu chefe). Vem depois, ao redor da medalha, as letras IHS, que alguns tentam, de modo errôneo, traduzir do latim por Iesus Hominum Salvator (Jesus Salvador dos Homens). Mas são caracteres gregos do nome Jesus (Ihsoys). Surgem ainda as sílabas VRSNSMVSMQLIVB, Vade retro satana; nunquam suade mihi vana: sunt mala quae libas; ipse venena bibas (Afasta-te satanás; nunca me aconselhes tuas vaidades. A bebida que me ofereces é o mal. Bebe tu mesmo teus venenos. Ou: Afasta-te de mim satanás; não me persuadas de tuas vaidades. O que me ofereces é o mal. Bebe tu mesmo teus venenos).
Segundo Dom Próspero Guéranger, abade de Solesmes e estudioso da medalha de São Bento, é quase impossível encontrar uma data exata para o surgimento desta medalha. Todavia, pode-se apontar o século XVII. Mais precisamente um fato ocorrido em 1647: em Nattremberg, na Alemanha, mulheres maldosas foram presas acusadas de fazerem malefícios contra os habitantes da região. No processo, confessaram às autoridades públicas que só não tiveram êxito contra a abadia de Metten, pois esta devia ter nas paredes algum símbolo ligado à Cruz do Senhor. Realizadas pesquisas, aí foi encontrado um manuscrito feito por ordem do abade Pedro, no ano 1415, com as mesmas iniciais hoje vistas na medalha de São Bento. Eis que tal medalha, confeccionada e divulgada mundo afora, recebeu, em 12 de março de 1742, a aprovação do Papa Bento XIV que lhe adicionou uma fórmula própria de bênção. Esta pode ser dada, nos dias de hoje, por todo sacerdote, não necessariamente um monge beneditino.
Nunca é demais lembrar que tal medalha – como nenhum outro sacramental da Igreja – não tem poderes mágicos próprios. É um objeto de piedade sobre o qual a mãe Igreja invoca a bênção de Deus a fim de que proteja os que o usam de males espirituais e físicos. Contudo, o principal efeito de um sacramental é santificar a vida do fiel e melhor prepará-lo para receber a graça própria dos sacramentos (cf. Sacrossanctum Concilium n. 60).
Indicamos, por fim, três obras interessantes: Vida e milagres de São Bento, de São Gregório Magno, A medalha de São Bento, de Dom Próspero Guéranger, OSB, e A vida maravilhosa e a medalha de São Bento, de Armando dos Santos, que muito utilizamos neste artigo. Todas da Artpress Editora.
São Bento, rogai por nós!
Vanderlei de Lima é eremita de Charles de Foucauld
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