UMA ESCOLA PARA O DESEJO
Solenidade de Nosso Pai São Bento – 11 julho 2025
Pr 2,1-9; Col 3,9b-17; Jo 15,1-8
UMA ESCOLA PARA O DESEJO
“Quem é o homem que quer a vida e arde de desejo por dias felizes?” (Prol. 15). Com esta pergunta do prólogo, Bento começa a delinear o que a vida monástica significa para ele. Na origem da vida monástica, mas poderíamos dizer na origem da vida cristã, há o desejo pela vida, pela vida verdadeira. Pode parecer óbvio: quem não deseja a vida? Mas não é tão óbvio! Bento diz que uma escola para o desejo é necessária para desejar verdadeiramente a vida. Quem responder “Eu!” à pergunta “Quem é o homem que deseja a vida?” deve então cultivar o desejo, porque o desejo e o desejo pela vida verdadeira não são tão óbvios.
Vemos isso muito claramente hoje. Em nossa sociedade, é assim tão óbvio desejar verdadeiramente a vida? Há muitas pessoas que não desejam mais nada e que, no máximo, buscam a satisfação de necessidades imediatas. Mas necessidades não são desejos. Os sinais da morte que desfiguram o mundo talvez sejam um sinal de uma busca autêntica pela vida? E a Igreja de hoje, as comunidades cristãs, desejam verdadeiramente a vida? As nossas comunidades monásticas desejam a vida? Somos nós, monges e monjas, homens e mulheres de desejo, com os rostos transfigurados pela busca apaixonada da vida em plenitude? Talvez devêssemos responder sinceramente “não” a todas estas perguntas... os nossos rostos são muitas vezes tristes, a nossa busca muitas vezes resignada, o nosso desejo de vida adormecido... talvez sejamos um pouco como os discípulos de Emaús antes do seu encontro com o Ressuscitado... os nossos rostos são tristes. Se existe a possibilidade da ausência de desejo e, portanto, de uma sensibilidade morta que não tende para a vida, existe também a distorção do desejo, com a absolutização das nossas necessidades a qual degenera em toda a forma de idolatria. A idolatria é a perversão do desejo, que se disfarça de busca de vida, mas que na verdade conduz à morte.
No entanto, em nossos corações, o desejo pela vida nunca morre e, por isso, Bento nos diz: “Você deve educar o desejo, e eu lhe proponho uma ‘academia’ na qual você possa treiná-lo, uma escola na qual você possa aprender a arte de desejar”. O livro dos Provérbios também nos fala de um desejo que precisa ser educado. De fato, fala da necessidade de inclinar o ouvido à sabedoria; de inclinar o coração à prudência; de invocar o entendimento; de buscar a prudência como a prata, de cavar como se fosse encontrar um tesouro precioso... tudo isso para alcançar o conhecimento de Deus. É um verdadeiro exercício de educação do desejo, de busca de Deus, de busca pela vida em plenitude.
Mas que matérias são estudadas nesta escola do desejo, que exames são
feitos? Bento é muito claro: “Se queres ter a vida verdadeira e eterna, guarda
a tua língua do mal e os teus lábios da mentira. Afasta-te da iniquidade, faze
o bem, busca a paz e segue-a” (RB Prol. 17). A escola do desejo não é feita de
matérias teóricas, mas de gestos: diz respeito à língua, aos lábios, ao
coração, às mãos, aos pés... O desejo é educado no “corpo”, na nossa maneira de
vivenciar as relações. Toda a Regra de Bento nada mais é do que a organização
desta escola de serviço divino: “Portanto, devemos fundar uma escola de serviço
ao Senhor” (cf. RB Prol. 45), que nada mais é do que uma escola do desejo, para
buscar a vida verdadeira, para escapar de toda forma de escravidão e idolatria.
Somente a partir dessa perspectiva podemos compreender todas as instruções, às
vezes detalhadas, que a Regra fornece para vários aspectos da vida: oração,
comida e bebida, modos à mesa e conduta no coro, descanso, trabalho,
relacionamentos pessoais, hóspedes, viagens, obediência, os vários serviços
dentro da comunidade, silêncio, roupas... Às vezes, certas exigências podem nos
fazer sorrir hoje... mas Bento, em sua sabedoria e experiência, sabe que o
desejo é cultivado por meio de pequenas atenções concretas na vida cotidiana.
Temos muito a aprender com a Regra de Bento e, em vez de sorrir
superficialmente diante de certas instruções, talvez devêssemos refletir
seriamente sobre como vivemos e como nos esforçamos para cultivar nosso desejo
por uma busca autêntica pela vida.
Nós, monges e monjas, somos frequentemente questionados sobre qual é o
sentido de seguir uma regra; às vezes, a regra é vista como uma limitação da
liberdade, como algo que nos constringe. Mas uma regra escolhida e aceita é, na
verdade, uma educação do desejo, um caminho para a liberdade autêntica, contra
toda liberdade ilusória... a regra é concretamente aquela “escada da humildade”
que, subida degrau por degrau, conduz “àquele amor que, quando perfeito, lança
fora todo o medo” (RB VII, 67). Hoje, há a necessidade de homens e mulheres,
monges e monjas, comunidades monásticas, comunidades cristãs, capazes de
desejar, não vergados pela tristeza das próprias necessidades, mas aspirantes à
vida. Bento, em sua sabedoria e experiência, nos ensina que, para isso, devemos
“inscrever-nos” na “escola do serviço divino”, partindo dos aspectos mais
concretos e essenciais da vida. A Regra de Bento é escrita para principiantes
(cf. RB LXXIII, 8), porque na escola do desejo somos sempre principiantes, que,
para ter vida verdadeira e dar fruto, devem permanecer constantemente unidos a
Cristo, como os ramos à videira.
Matteo Ferrari, Prior de Camaldoli [Tradução: Ana Lydia Sawaya, OSB Cam.]
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