CHARLIE. OSCAR. TANGO
Este é o título da obra de Eduardo Maia Betini e Fabiano Tomazi, ambos agentes da Polícia Federal (PF). Tem por subtítulo “Por dentro do Grupo de Operações Especiais da Polícia Federal”. Publicado pela Ícone Editora em 2009, já está na nona tiragem.
Importa notar que, logo de início, os autores fazem um compromisso didático: “Em razão do livro não ser voltado apenas a policiais, tivemos a intenção de contar histórias reais, experimentadas em algumas missões por esse país, tornando a leitura mais dinâmica e agradável. Para finalizar, criamos um apêndice contendo breves considerações sobre a sociedade e a violência, fornecendo dicas de segurança preventiva e emergencial para o cidadão, a maior vítima dessa violência” (p. 18). De fato, as páginas 257-284 – o Apêndice – são muito preciosas.
Logo adiante, definem – ao contrário do que alguns, segundo o mero senso comum, pensam – que “os grupos especiais de natureza policial possuem objetivos bem distintos dos militares [apresentados um pouco antes – Nota nossa]: salvar vidas e fazer cumprir a lei. Sua principal vocação não é matar o inimigo ou causar destruição. Suas missões e, por conseguinte, seu propósito são desarticular organizações criminosas, pôr fim em conflitos, capturar criminosos, resgatar reféns, retomar pontos e instalações (móveis e imóveis), fazer segurança de pessoas, lugares, sobreviver em ambientes hostis. Matar somente em legítima defesa, própria ou de outrem, ou quando a lei assim permite, através das excludentes de ilicitude. Esses grupos são regidos pelas leis vigentes no país e precisam atuar de acordo com esse ordenamento jurídico, respeitando tudo o que foi estabelecido. Por isso tudo, a seleção dos integrantes dos grupos policiais de operações especiais é tão rigorosa” (p. 26).
Aliás, o que realmente conta nos Grupos de Operações Especiais não é o número de integrantes, mas a superioridade tática destes sobre os adversários. E onde está tal força? – O livro responde que está em alguns princípios como “a surpresa, simplicidade, sigilo, repetição, segurança, mobilidade, rapidez, independência e comprometimento. [...] Os princípios citados são utilizados em todas as fases da missão: planejamento, preparação e execução” (p. 26; cf. pp. 26-31).
Como é um dos propósito dos autores contar fatos, lemos que, na Missão Golf, no Rio de Janeiro, em 2005, no BOPE (Batalhão de Operações Especiais), não havia cama para os policiais federais. “Deitamos todos no chão do salão que fica no primeiro andar [...]. Dormimos ali, uns com as cabeças encostadas nos fuzis, que eram forrados com o gorro para ficar um pouco mais macios, outros apoiados nas mochilas e alguns praticamente sentados. O colete tático, o balístico e o cinto com a pistola ao lado do corpo, ao alcance das mãos como de costume. Um calor sufocante e úmido fazia com que não parássemos de transpirar, deixando o salão com um odor acre e azedo” (p. 212).
Tal sacrifício, mais ou menos frequente, não é estranho a quem fez este juramento: “Juro, pela minha honra, que envidarei todos meus esforços no cumprimento dos deveres do Policial Federal, exercendo minha função com probidade e denodo e se necessário, com o sacrifício da própria vida (Juramento do Policial Federal)” (p. 56). Aqui, podem ser lembradas as palavras de Cristo no Evangelho segundo João: “Ninguém tem maior prova de amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos” (Jo 15,13).
Tudo isto demonstra que, não obstante as falhas ocorrentes nos meios policiais (cf. p. 57) – como em tantos outros da sociedade – é preciso, no âmbito teórico e prático, bem valorizar as Polícias.
Quanto ao título do livro, lemos na página 33: Comando de Operações Táticas (COT), cujas iniciais, na linguagem policial, é Charlie, Oscar, Tango.
Parabéns aos
autores e à Ícone!
Vanderlei de Lima é escritor
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