OS CÔNEGOS REGULARES PREMONSTRATENSES

 

(Canonia de Itinga, Bahia)

Desejamos tratar, aqui, dos cônegos regulares premonstratenses que, fundados por São Norberto de Xanten (1080-1134) – cuja vida ocupará grande parte deste artigo –, estão presentes no Brasil desde 1896. Têm, atualmente, casas (canonias) em São Paulo, Minas Gerais e Bahia.

Norberto nasceu em Gennep (hoje sul da Holanda), filho do casal Heribert e Hedwig. No momento do parto, sua mãe ouviu uma voz do céu a dizer-lhe: “Coragem, teu filho terá um futuro brilhante”. Aos nove anos, já era cônego (título eclesiástico dado, então, até a crianças), tinha excelentes notas escolares e frequentava cortes de bispos e, depois, também de príncipes e imperadores. Era um jovem bom, mas envolvido com assuntos mundanos. Eis, porém, que, em maio de 1115, foi atingido por um raio, caiu ao chão (cf. At 9,4) e, aí, ouviu esta repreensão celestial: “Deixa o mal e faze o bem” (cf. Sl 37,27; 1Pd 3,11). Voltando para a casa ileso, passou a levar tão a sério a fé católica que, em setembro do mesmo ano, tornou-se sacerdote.

Depois de 40 dias de retiro na abadia beneditina de Siegberg, voltou para Xanten a fim de ocupar seu lugar entre os cônegos, mas foi repelido (cf. Jo 1,11). A busca de poder humano daqueles homens e a aspiração das coisas do alto (cf. Cl 3,1) por parte de Norberto eram incompatíveis. Retirou-se, então, para um eremitério e lá viveu vários anos no estudo da Sagrada Escritura e em penitência. Passada esta fase, tornou-se pregador itinerante. O bispo, no entanto, o acusou de pregar sem licença para tal, de trajar um hábito monástico sem ser monge e de não ter renunciado aos próprios bens. O santo calou-se. Devolveu a côngrua (“salário”) a que tinha direito por ser cônego secular de Xanten, vendeu os bens, distribuiu o valor aos pobres (cf. Mt 19,21) e foi encontrar-se com o Papa Gelásio II, no Sul da França, a fim de pedir-lhe licença de pregar onde houvesse necessidade. Autorizado pelo Santo Padre, andou, na companhia de Hugo de Fosses – seu primeiro sucessor à frente da Ordem que mais tarde fundará – por toda a França.

Nessas suas peregrinações, encontrou, certa vez, com Dom Bartolomeu de Joux, bispo de Laon, que o apresentou, no Concílio de Reims, a Calixto II, o novo Papa. Na ocasião, ambos fizeram uma proposta a Norberto: fixar-se em um local, fundar um convento e, a partir dele, irradiar para o mundo a mensagem do Evangelho. O santo obedeceu. Na floresta de Coucy, em um lugarejo chamado Premontré (daí o nome premonstratense), construiu um convento e, na noite de Natal do ano de 1121, ele e seus primeiros companheiros entregaram-se oficialmente ao serviço de Deus.

Os premonstratenses adotam a Regra de Santo Agostinho, emitem os votos de pobreza, castidade e obediência, vivem vida comum, rezam a Liturgia das Horas em coro, têm profunda devoção à Eucaristia, à Virgem Maria e dedicam-se também a trabalhos pastorais junto ao Povo de Deus. Usam um hábito branco, que, segundo piedosa tradição, foi entregue ao santo fundador por Nossa Senhora. São cônegos. Não seculares, mas regulares, pois – ao contrário dos seculares, ligados à diocese –, têm, como vimos, vida comum e, sobretudo, professam os conselhos evangélicos.

Voltando a São Norberto, sabemos que, em 1126, foi nomeado arcebispo de Magdeburgo (Alemanha) e lá, não sem dificuldades, conseguiu reformar os costumes do clero e levar seus filhos espirituais àquelas terras. Enfraquecido pela doença, no dia 6 de junho de 1134, entregou sua alma a Deus. Canonizado, em 1626, pelo Papa Gregório XIII, é um dos grandes santos da Igreja (cf. Cônego Godofredo Chantrain, O. Praem. São Norberto, o defensor da Eucaristia, Cultor de Livros, 2022).

Possa este modesto artigo despertar maior interesse por São Norberto e por seus cônegos regulares premonstratenses.

            Vanderlei de Lima é eremita de Charles de Foucauld

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