CÔNEGOS DA SANTA CRUZ E OBRA DOS SANTOS ANJOS
I
A Ordem da Santa Cruz teve sua origem primeira no distante século XII (1131-1132) com a fundação do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, em Portugal.
Seus membros, que seguiam a Regra de Santo Agostinho de Hipona e as Constituições de São Rufo de Avinhão, logo se multiplicaram, receberam a aprovação do Papa Inocêncio II, em 1135, e de Dom Afonso Henriques, rei de Portugal, em 1139. A expansão desta família religiosa também foi célere. Ela formou, em seu seio, Santo Antônio de Pádua (ou de Lisboa), doutor da Igreja, e ofereceu ao povo de Deus afamados clérigos.
Em 1567, o Papa São Pio V aprovou, de modo definitivo, a Congregação de Santa Cruz de Coimbra que, em 1556, já tivera uma primeira organização sob as bênçãos do Papa Paulo IV. Todavia, os religiosos da Santa Cruz, assim como seus coirmãos de outras famílias religiosas, não ficaram imunes às implacáveis perseguições do marquês de Pombal, no século XVIII. Conseguiram, porém, com a graça de Deus, superar este entrave e ter, em 1783, suas novas constituições aprovadas. Todavia, em meio aos embates políticos de Portugal, no ano de 1834, por ordem do rei Dom Pedro IV, o mosteiro foi fechado e seus membros conheceram agruras e misérias materiais. Tudo parecia findado. Deus tinha, no entanto, outros planos, uma vez que o Papa Gregório XVI salvaguardou a existência do instituto religioso perseguido pelo monarca.
Passadas estas tempestades, no ano de 1949, por meio da Sra. Gabriela Bitterlich († 1978), nascia, em Innsbruck, na Áustria, a Obra dos Santos Anjos (Opus Angelorum), e, em 1961, na mesma cidade, a Confraria dos Santos Anjos. Ambas com apoio de Dom Paulus Ruschdo, bispo local. Nos anos de 1970, viu-se a necessidade de incorporar à Obra não apenas leigos, mas também sacerdotes. Em 1976, a Congregação para os Religiosos e Institutos Seculares propôs aos interessados duas saídas: restaurar, na Igreja, uma Ordem já extinta ou reanimar uma Ordem antiga. Esta última foi a opção escolhida. Renascia, pois, em 1977, a Ordem dos Cônegos Regrantes da Santa Cruz de Coimbra. Hoje, ela está presente na Europa (Alemanha, Áustria, Holanda, Itália, Portugal e Suíça), na América (Brasil, Estados Unidos e México) e na Ásia (Filipinas e Índia). Conta ainda com a agregação do instituto religioso feminino das “Irmãs da Santa Cruz” e do instituto secular feminino “Auxiliares Missionárias da Santa Cruz”, além de diversas associações de fiéis, sacerdotes e leigos.
Pode-se dizer que os Cônegos da Santa Cruz têm estreita ligação com o Brasil. Com efeito, já no ano de 1671, Dom Estêvão dos Santos Carneiro, membro da Ordem, tomou posse como bispo de Salvador (BA). Também Dom Tomás da Encarnação Costa e Lima, brasileiro, após exercer várias atividades na Ordem da Santa Cruz, foi, no ano de 1774, nomeado bispo de Olinda (PE). Dando amplo salto no tempo, em 1974, tão logo essa família religiosa foi restaurada, fundou, em Guaratinguetá, SP, uma casa de religiosos e também de recolhimento para o público externo. Daí difunde a Obra dos Santos Anjos que, após alguns ajustes solicitados pela Santa Sé, encontra-se aprovada pela Igreja. Em 1983, a pedido do bispo diocesano de Anápolis (GO), os cônegos fundaram uma casa de estudos teológicos superiores abonada pela Santa Sé naquela diocese: o Institutum Sapientiae. Anexo, funciona também o curso de Filosofia ligado à Faculdade Eclesiástica de Filosofia João Paulo II, do Rio de Janeiro.
Eis, de modo muito sintético, um pouco da história remota e próxima da Ordem dos Cônegos da Santa Cruz. Ela é benemérita por trazer entre nós a Obra dos Santos Anjos, em nível devocional-pastoral, e os estudos de Filosofia e Teologia na fidelidade ao Magistério da Igreja. Até o próximo artigo! Nele trataremos do carisma da Ordem.
II
A Ordem dos Cônegos da Santa Cruz – já apresentada no artigo precedente – merece ser melhor conhecida no seu carisma contemplativo/ativo.
Sim, os membros desta família religiosa têm como especial carisma quatro pilares, conforme veremos, à luz do livreto A Vocação para a Ordem da Santa Cruz, s/d., 37 pp., neste artigo.
1) Adorar a Deus por meio de Jesus Cristo no Espírito Santo, participando no amor de Cristo com o qual Ele glorificou o Pai em nome de todas as criaturas. Isso se faz por meio da Santa Missa cotidiana, da Liturgia das Horas e da adoração diária ao Senhor no Santíssimo Sacramento.
2) Contemplar a Palavra e a Obra salvífica de Deus para aprender a eminente ciência de Jesus Cristo e do Seu amor crucificado. Unidos a Nossa Senhora, aos Anjos e Santos, o religioso desta família de almas busca maior união com Deus em uma vida de recolhimento, na simplicidade e pureza de coração, na humildade e no silêncio. A leitura espiritual e o estudo da Teologia aqui se inserem.
3) Seguir a Jesus no caminho da Cruz em espírito de expiação, completando o que falta às tribulações de Cristo pelo Seu Corpo que é a Igreja. Sim, os membros desta Ordem buscam se unir ao Senhor na oferta de suas vidas como vítimas expiatórias. Na quinta-feira à noite e na sexta-feira à tarde, rezam a Passio Domini [Paixão do Senhor], uma Hora Santa pela santificação dos sacerdotes, pelas necessidades da Igreja e em reparação pelos pecados do mundo.
4) Testemunhar e proclamar Jesus Cristo, único Salvador do mundo, poder de Deus e sabedoria de Deus, através da missão. Isto se dá por meio da formação de candidatos ao sacerdócio ministerial, da assistência espiritual aos sacerdotes e de outros trabalhos pastorais, além da difusão da devoção aos santos Anjos. Afinal, não sem razão, o brasão da Ordem apresenta dois Anjos adorando a Cruz de nosso Senhor, tendo esta no centro um círculo que representa a Santíssima Eucaristia. Aos pés da Cruz, encontra-se um “M”, simbolizando Maria. Este brasão resume o conteúdo dessa espiritualidade.
Há vários modos de participar da Ordem: os sacerdotes: dado que esta família religiosa é de cônegos regulares voltados ao serviço divino na Liturgia, é normal que a ampla maioria de seus membros seja sacerdote; os irmãos: que, evidentemente, não são sacerdotes, mas colaboram com eles nas atividades orantes e pastorais da Ordem; os donatos regulares: são sacerdotes com votos públicos simples que, via de regra, desempenham tarefas da pastoral ordinária fora dos mosteiros da Ordem da Santa Cruz. Apesar de se dedicarem ao serviço pastoral em uma diocese, são religiosos da Ordem e levam vida comunitária, e os auxiliares: leigos que se ligam a Deus através de uma promessa e servem à Ordem da Santa Cruz morando em uma de suas casas.
Por fim, diga-se que a Obra dos Santos Anjos é “uma associação pública da Igreja Católica com personalidade jurídica em conformidade com o can. 313 CIC; está ligado à Ordem dos Cônegos Regrantes da Santa Cruz segundo o can. 677, §2 CIC, e colocada sob a direção dessa Ordem em conformidade com o can. 303 CIC. [...] Difunde entre os fiéis a devoção aos Santos Anjos, exorta à oração pelos sacerdotes, promove o amor a Jesus Cristo na Sua paixão e a união à mesma. Não existe, portanto, nenhum obstáculo de ordem doutrinal ou disciplinar para que os Ordinários locais acolham nas suas dioceses esse movimento e favoreçam o seu crescimento” (Congregação para a Doutrina da Fé. Carta..., 02/10/2010).
Quem melhor desejar conhecer esta bela Obra – dos Santos Anjos e dos Cônegos da Santa Cruz – suscitada por Deus no seio da Igreja, dirija-se ao telefone/whatsapp: (12) 997371667. Ela é de uma riqueza espiritual imensa e, por certo, lhe fará grande bem!
Vanderlei de Lima, eremita de Charles de Foucauld na Diocese de Limeira, SP.
NOTA: CIC siginifica Codex Iuris Canonici, Código de Direito Canônico.
Muito obrigado Ir. Vanderlei pela publicação deste artigo e divulgação da espiritualidade!
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