DIÁLOGO COM DEUS

 


O título deste artigo é do livro de Dom García María Colombás, monge beneditino espanhol e afamado historiador da Ordem beneditina.

Nesta obra, ele faz uma introdução à lectio divina ou à leitura orante da Bíblia. É um estudo valorizado pelo grande público, uma vez que, publicado, pela Paulus, em 1996, está, em 2024, na quinta reimpressão. Dom Columbás deixa claro, na última página, que, nos textos, fala “sem dúvida alguma, um ‘ancião’ experimentado na ‘leitura de Deus’. Alguém que conhece sua natureza e sabe como praticá-la. Seus conselhos, tão simples e autênticos, constituem o melhor final imaginável para este livro” (p. 126). Conheçamos, pois, ainda que de modo muito breve, aspectos da obra em foco.

Logo de início, a pergunta que vem à mente é: Que se entende por Lectio Divina? – Responde-nos o experiente monge: “Lectio, como ‘leitura’, é um substantivo ambíguo, podendo designar tanto a ação de ler como o escrito que se lê. Divina é um adjetivo que qualifica o substantivo lectio, e significa ‘de Deus’. A expressão lectio divina quer dizer, literalmente, ‘leitura divina’, ‘leitura de Deus’. Ou seja, significa uma leitura que tem Deus por objeto” (p. 31). Mais adiante, realçando que a lectio é a leitura de Deus, deixa claro não ser “qualquer leitura da Bíblia que pode qualificar-se como lectio divina. Assim, percorrer suas páginas superficialmente, por mera curiosidade, sem interessar-se verdadeiramente por ela, não é ‘leitura divina’. Não é tampouco esquadrinhá-la com finalidade de estudo. Ler, escutar, reter, aprofundar, viver a Palavra de Deus contida na Escritura, mergulhar nela com fé e amor: nisso consiste, essencialmente, a lectio divina” (p. 38). Ainda: “A pessoa lê a Deus simplesmente para estar com Ele, para escutar sua voz. É ler por ler” (p. 46). Isto é, a finalidade do leitor orante não é estudar a Bíblia (cf. p. 45), ainda que o estudo (cf. pp. 56-57) – à parte da Lectio Divina – possa ajudar na sua prática assídua e diária (p. 30). Afinal, a leitura bíblica é austera (cf. p. 67; Hb 4,12) e apresenta suas dificuldades próprias (cf. p. 69).

Como, então, fazer uma boa Lectio? – Dom Colombás dá os seguintes requisitos: 1) ambiente favorável com paz interior e exterior, silêncio, tempo livre etc. Do contrário, pode-se iniciar a Lectio cheio de informações externas que não ajudam, mas atrapalham a meditação (pensa-se em uma guerra atual, em um acidente grave, em uma descoberta científica etc.; cf. p. 120); 2) pureza de coração (cf. Mt 5,8) ou humildade; 3) desprendimento e docilidade, pois é um esforço longo, mas cujo retorno nem sempre é imediato e 4) espírito de oração (cf. pp. 72-78). A Lectio bem praticada traz frutos ao praticante. São eles: a) mentalidade bíblica: nossa vida vai, no pensar, falar, agir, se ajustando à Palavra de Deus; b) total renovação do ser humano, de modo especial no interior (cf. Rm 15,4); c) piedade mais objetiva, pois do contrário poder-se-ia cair no niilismo; d) vida de oração: favorece-a e vivifica-a; e) experiência de Deus com a graça da oração íntima do orante com o Senhor e f) grande felicidade no praticante da Lectio (cf. pp. 86-93).

A Lectio Divina é feita individualmente, mas depois vem a Collatio ou, em português, Colóquio, em grupo. Isto ajuda melhor na compreensão do texto lido (cf. p. 100). Ali, repleta da Palavra, cada pessoa a deixa transbordar junto ao próximo (cf. p. 103; ver: Sl 36,30-31). Isto não com meras interpretações subjetivistas, mas sim, dentro da Liturgia (cf. p. 64), na fé da Igreja-Esposa do Verbo (cf. p. 63; Dei Verbum, 10 e 13).

A obra em foco, bem traduzida pelos monges do mosteiro da Ressurreição (Ponta Grossa, Paraná), é assaz oportuna. Requer, no entanto, a correção das muitas palavras separadas – sem necessidade – por hífen ao longo do livro.

Vanderlei de Lima é eremita de Charles de Foucauld

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