O PERIGO DO LIBERALISMO

 

Por Angélica Barragán, Religión enLibertad, 07/05/2024

A liberdade, “um dos mais preciosos dons que os céus concedeu aos homens” (Cervantes), transformou-se num fim em si mesmo, que é adorado, como um bezerro de ouro, por uma parte da sociedade que, repetindo o grito luciferino non serviam, rejeita a devida submissão à lei divina.

Do mesmo modo, governos e organismos internacionais que proclamam aos quatro ventos a soberania absoluta do indivíduo, com total independência de Deus e da sua autoridade, fabricaram “novos direitos”, verdadeira corrupção dos legítimos direitos que, baseados na natureza humana, promoviam a moral e a virtude. Sob esta falsa noção de liberdade, chamada liberalismo, que rejeita até a lei natural, escrita por Deus no coração de todo homem, cada indivíduo se considera “livre” para determinar a realidade (ou pelo menos a sua realidade) com os efeitos perversos que isso implica. Logo, o homem, se assim “sente”, tem o “direito” de se “identificar” como mulher; a mulher grávida goza de “autonomia” para decidir se quer continuar a gravidez ou eliminar o filho que traz no ventre; vários homens e mulheres reduziram a maternidade, por meio da barriga de aluguel, a um negócio de compra e venda; aos idosos e aos doentes dá-se a possibilidade de antecipar o seu encontro com a morte mediante o suicídio assistido; já as crianças, os jovens e os idosos são livres para “amar” quem lhes apetecer, dando rédea solta a todo tipo de perversões.

Como afirma Nicolás Gómez Dávila: “O liberalismo proclama o direito do indivíduo de se rebaixar, sempre que o seu rebaixamento não importune o rebaixamento do próximo”. Uma vez que a referida ideologia, ao colocar a vontade popular como fonte da moralidade e negar a supremacia da lei divina sobre a lei humana, promove a escravização do homem às suas mais baixas paixões e desejos, eliminando a verdadeira liberdade. Por isso, enquanto, sob o nome de liberdade de expressão, tanto o sacrilégio, quanto a blasfêmia e a pornografia estão à solta, em vários lugares já se penaliza (e em outros se pretende condenar), sob o ambíguo conceito de “discurso de ódio”, aqueles que defendem certezas imutáveis. A tolerância coletiva ao vício, à imoralidade e ao erro, que nossa “libérrima” sociedade exerce, levou-a a não ser capaz de suportar a verdade.

Nossa busca frenética por uma autonomia sem limites nos induziu a rejeitar, uma a uma, as certezas que tornaram grande e livre a nossa civilização e, ao mesmo tempo, foi se dando um poder cada vez maior a políticos e organizações internacionais, ao ponto de já se poder vislumbrar, no horizonte, o temível monstro da tirania. Este já se mostrou no contexto da pandemia e ameaça voltar sob o pomposo nome de “Desenvolvimento Sustentável e Agenda 2030” (à qual poucos políticos se opõem) e que visa, a fim de “salvar o planeta”, igualitarizar nossa sociedade “pluralista”, praticamente ditando o que devemos comer, comprar, vestir, onde e como podemos ir e até o que teremos de pensar. Isso porque o liberalismo – ao conferir igualdade de direitos tanto ao bem quanto ao mal, à verdade e ao erro, ao correto e ao falso, ao justo e ao injusto, à virtude e ao vício – passou, essencialmente e em poucas décadas, da tolerância, a reprimir toda discordância do pensamento dominante.

De igual modo, o liberalismo foi despojando o homem das suas raízes (pátria e tradição), dos seus laços mais íntimos (família) e do próprio sentido da sua existência (Deus), deixou, com isso, o indivíduo sozinho, impotente e indefeso ante o Estado que, apoiado pelas ideologias do momento, revela ao homem a sua desventura e a sua miséria mais absoluta, ao mesmo tempo em que tira a sua capacidade de elevar os olhos para Deus a fim de implorar Sua ajuda.

Banimos Deus da sociedade e temos, no seu lugar, imoralidade, desordem e confusão. Onde não se defende a verdade, o erro acaba se impondo. Onde Deus é rejeitado, a tirania tem a porta aberta, pois não há liberdade possível onde se rejeita o Bem. Recordemos que só a verdadeira liberdade (essa capacidade que nós, os seres humanos, temos de dirigir, segundo a razão, a nossa vontade para o bem) nos permite desenvolver todo o nosso potencial e, sobretudo, viver, em conformidade com a nossa natureza humana, rumo ao fim para o qual fomos criados: Deus.

Por isso, para o bem, tanto da sociedade quanto dos indivíduos, é indispensável que as leis civis facilitem às pessoas o viver segundo os preceitos da lei natural, essa lei eterna que, gravada por Deus nos seres humanos, os inclina para as obras e para o fim que lhes são próprios. Como afirmou Pio XI: “O único remédio que a sociedade moderna tem para se salvar é o retorno à verdade divina e à lei de Deus. Quando os homens reconhecerem, tanto na vida privada como na pública, que Cristo é Rei, a sociedade, por fim, receberá as grandes bênçãos da verdadeira liberdade, a disciplina bem ordenada, a paz e a harmonia” (Quas Primas, n. 17).

“Paz, vida e saúde perpétua, / Venham os bons tempos, / Venha a paz de Cristo, / Venha o reino de Cristo” (Hino Laudes Regiæ).

* O tradutor deste artigo, Vanderlei de Lima, recomenda, de modo muito vivo, a leitura de seu livro Obedecer antes a Deus que aos homens: a objeção de consciência como um direito humano fundamental, da Cultor de Livros, pois trata de muitos pontos que a autora do presente artigo aponta.

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