O ESPERÁVEL NÃO DO PAPA FRANCISCO ÀS DIACONISAS
Em uma recente entrevista
a Norah O’Donnell, no 60 Minutes, da CBS
News, o Papa Francisco reafirmou o seu não à ordenação de diaconisas. Dado que
o tema é controverso, nós o comentaremos neste artigo.
Os que defendem a
ordenação de diaconisas nem sempre pensam no sentido original dessa função,
têm-na, erroneamente, por versão feminina do diaconato concedido aos homens
como o primeiro grau do sacramento da Ordem. Ora, isso não encontra fundamento
na Escritura e na Tradição, por isso, o Papa Francisco a rejeitou.
Sim, disse o Santo
Padre, já no dia 10/05/2019, às superioras gerais de institutos religiosos
reunidas em Roma ser “certo que havia uma forma de diaconato feminino no
começo, sobretudo na Síria. Naquela região, ajudavam no batismo…”. No entanto,
“a forma de ordenação não era uma fórmula sacramental. Era como o que hoje é a
bênção de uma abadessa, uma bênção especial do diaconato para as mulheres” (ACI
Digital, 13/05/19, on-line). Que dizer?
Na Escritura, é
São Paulo quem, por três vezes, menciona, de modo direto ou indireto, as
diaconisas (cf. Rm 16,1; 1Tm 3,11; 5,9-11), mas com um detalhe a ser
considerado: embora muito recomende a diaconisa Febe (cf. Rm 16,1), proíbe a
mulher de proclamar a Palavra em público (cf. 1Cor 14,34-35), ato incompatível,
em si, com o diaconato. Na Tradição, as Constituições Apostólicas VI,17,
do século IV, registram a existência de diaconisas que passavam a exercer suas
funções após a imposição das mãos do Bispo e de uma oração (cf. Constituições
Apostólicas VIII, 19-20).
Daí, a polêmica:
tal ato conferia um sacramento (o primeiro grau do sacramento
da Ordem) ou era apenas um sacramental (bênção ou
consagração)? – Dom Estêvão Bettencourt, OSB, afamado teólogo brasileiro,
responde que “nunca na Liturgia e no Direito antigos, a diaconisa foi
equiparada ao diácono; ao contrário, sempre lhe foram vedadas as funções do
diácono e do presbítero, apesar das investidas para exercê-las” (Pergunte e
Responderemos n. 500, fevereiro de 2004, p. 78). Também Bernardo
Bartmann, renomado teólogo alemão, assegura que “as diaconisas da Antiga Igreja
ocupavam-se da instrução das mulheres, vigiavam a porta das mulheres, durante a
liturgia, e dedicavam-se às obras de caridade (Const. Apost. 8,28)”, mas
não recebiam o sacramento da Ordem (cf. Teologia Dogmática.
São Paulo: Paulinas, 1962, p. 377-378, vol. III). Aliás, o Papa Sotero
(166-175) escreveu aos Bispos da Itália: “Foi comunicado a esta Sé Apostólica
que algumas mulheres consagradas a Deus e religiosas tomam a liberdade, nas
vossas regiões, de tocar nos vasos sagrados e nas santas palas e de incensar o
altar ao redor. Tal prática abusiva e digna de censura merece a rejeição de
todo homem sábio” (citação do Pseudo Isidoro, Coletânea de leis do século
IV. Pergunte e Responderemos n. 500, fevereiro de 2004, p.
77-78). A diaconia feminina foi perdendo a sua razão de ser e se extinguiu com
a redução do Batismo de mulheres adultas.
Concluamos este
artigo com as palavras de Santo Epifânio († 403): “Se no Novo Testamento as
mulheres fossem chamadas a exercer o sacerdócio ou algum outro ministério
canônico, a Maria deveria ter sido confiado, em primeiro lugar, o ministério
sacerdotal; Deus, porém, dispôs as coisas diversamente; não lhe conferiu nem
mesmo a faculdade de batizar. Quanto à categoria das diaconisas, existente na
Igreja, não foi destinada a cumprir funções sacerdotais ou outras similares. As
diaconisas são chamadas a salvaguardar a decência que se impõe no tocante ao
sexo feminino, seja cooperando na administração do sacramento do Batismo, seja
examinando as mulheres afetadas por alguma enfermidade ou vítimas de violência,
seja intervindo todas as vezes que se trate de descobrir o corpo de outras
mulheres a fim de que o desnudamento não seja exposto aos olhares dos
homens que executam as santas cerimônias, mas seja considerado unicamente pelo
olhar das diaconisas” (Panarion LXXIX 3).
Eis, por ora, resolvido um tema que sempre volta à baila.
Vanderlei de Lima é eremita de Charles de Foucauld na Diocese de Limeira.
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