PRELEÇÕES AOS POLICIAIS MILITARES

 

(Foto colhida no Instagram do 10º BPM/I)

Entre os dias 24 de março e 4 de abril último, estive com policiais militares do 10º BPM/I para preleções sobre um tema muito atual: Transtornos psíquicos e Psicopatia. Falei aos PMs – oficiais e praças – que atuam no próprio Batalhão, na Companhia de Força Tática e nas outras três Companhias existentes na cidade: a 1ª, a 4ª e a 5ª. Desejo, pois, trazer este fato aos leitores.

Distinguir bem – de modo didático, firme e claro – o que são transtornos psíquicos e o que é a psicopatia faz-se algo ímpar aos policiais militares. Sim, fora de toda a boa formação já trazida pelo policial, ela oferece uma visão abrangente na sua atuação.

Deste modo, a primeira parte da fala (mais breve) foi sobre os transtornos psíquicos com ênfase naqueles que levam o indivíduo a romper com a realidade objetiva para se refugiar no seu mundo subjetivo, portanto distorcido. Já a segunda parte (um pouco mais extensa) versou sobre o psicopata e suas grandes características. Ele é um ser humano que tem o cognitivo perfeito, mas o emocional carente de sentimentos elevados de piedade, compaixão e altruísmo faz dele um predador social perigosíssimo.

Certo é que, a esta altura, alguém poderia argumentar que os psicopatas não são muitos e nem todos são homicidas. Concordo, pois há, entre eles, os de grau leve (destacam-se aí os famosos aplicadores de golpes), moderado (que não matam, mas mandam matar) e grave (assassinos em série, estupradores contumazes, pedófilos etc.). E mais: Todos esses três tipos somados não passam, segundo dados colhidos pelo Dr. Robert Hare, de 3% da população em geral (cf. Sem consciência. Artmed, 2013, p. 83). Isso é, sem dúvida, uma boa notícia. Todavia, em um raciocínio um pouco mais apurado, vem a parte preocupante: Quanto é 3% de cerca de 410.000 pessoas? Feita esta conta, vá além: busque, em outra operação matemática, cerca de 1% das 410.000 pessoas, pois podem ter um transtorno psíquico grave, romper com a realidade e, então, cometer crimes de vulto. Por fim, com mais um pouco de paciência, some o resultado dos 3% com mais 1% e você terá o dado final.

Cumpre, no entanto, dizer, depois de uma conversa com o amigo Dr. Bruno Ortiz, médico psiquiatra com doutorado em esquizofrenia pela Unifesp, que as pessoas com transtornos psíquicos graves são – em relação à população em geral – 40% mais vítimas de violência do que protagonistas delas. Ainda: Os criminosos entre as pessoas com transtornos psíquicos graves já têm um histórico violento antes do primeiro surto.

Contudo, todas essas preleções só foram possíveis graças ao interesse da Tenente Coronel PM Sílvia Andreia Mantoani, comandante do 10º BPM/I, que pensa no bem do seu efetivo e da população em geral. Afinal, profissionais melhor preparados erram menos do que aqueles que não têm nada de acréscimo à sua formação comum. Reforço, com isso, de público, que a Coronel Sílvia é uma líder diferenciada. Seu trabalho na PM, neste momento, traz, não obstante falhas humanas isoladas de um ou outro policial, segurança às pessoas de bem. Por conseguinte, parabenizo-a por sua visão ampla e atualizada de mundo!

Quero destacar também que o empenho dos policiais em geral – oficiais e praças – foi, na minha ótica, muito proveitoso. Embora uma equipe pergunte mais e outra menos, uma levante questões mais rotineiras e outra indagações mais profundas, em todas, creio eu, a imensa maioria realmente desejosa aprendeu algo, mesmo se mínimo, de tudo o que expus de modo conciso devido ao tempo curto que tínhamos.

Estou certo de que o bom povo piracicabano ganhou muito com esse aguerrido empenho da ampla maioria dos policiais dedicados. Também eu aprendi com eles. Desde 2017 ministrando estas preleções a policiais, ensino, mas também aprendo. A vida é, afinal, uma grande escola. Basta querer se instruir!

Vanderlei de Lima é eremita de Charles de Foucauld, graduado em Filosofia (PUC-Campinas) e pós graduado em Psicopedagogia (UNIFIA-Amparo).


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