GUERRA NA BAIXADA

 

(Foto ilustrativa)

O atual confronto entre o Estado oficial, por meio de suas forças policiais, e o “estado paralelo”, através de criminosos altamente perigosos, na Baixada Santista, tem chamado a atenção e alguns já classificam esse embate sangrento como uma guerra.

No meu modesto entender, o referido enfrentamento é, sem entrar nos seus detalhes, fruto de uma luta por espaço. Durante décadas, bandidos poderosos agiram naquela importante região portuária sem, talvez, serem muito incomodados e, assim, se fortaleceram grandemente. Ora, hoje, o Governo estadual parece desejar, de certo modo, retomar o controle desse território perdido, ao menos em partes, para ladrões, traficantes, assassinos etc. que, mesmo sendo minoria, submetem aos seus malévolos desejos pessoas honestas e trabalhadoras que ali vivem ou sobrevivem.

Do que foi afirmado, pode-se dizer que há, na Baixada, o velho, intrigante e debatido problema do mal. Daí a questão: Que é o mal? – De modo genérico, respondo que o mal é, por definição filosófica, a ausência de um bem necessário. Sim, ele (o mal) não tem existência própria, mas nasce da falta de algo que deveria existir, e não existe ou, então, existe, mas falha em algum momento. Assim, as trevas só são percebidas quando falta luz, a doença aparece na falta de saúde, a debilidade vem no declínio das forças etc. Nem toda ausência é, no entanto, má: a carência de olhos em uma árvore não é um mal (eles não lhe são necessários), mas no ser humano, por exemplo, é (ele precisa dos olhos). Deus não quer o mal, mas, em seus sábios desígnios, o permite, pois é capaz – enxerguemos ou não – de tirar dele bens ainda maiores (cf. Santo Agostinho de Hipona. Enchiridion, 38).

Ao que parece, esse mal, que é o forte domínio de criminosos na região, se deve a certa omissão de autoridades do Estado oficial. Quem, no passado, teve consciência da escalada do “estado paralelo” naquele espaço, podia fazer algo contrário a ela, mas não fez, responderá diante de Deus pelo grave pecado da omissão. Aquele pecado – que na culta e lógica linguagem do Padre Antônio Vieira, SJ, no Sermão da Primeira Dominga do Advento – “se faz não fazendo”. Agora, a retomada inicial, com a Polícia, não será pacífica. E é apenas uma das frentes. Junto a ela devem vir significativos e permanentes avanços na saúde, habitação, educação etc.

Nesta guerra, todavia, a desigualdade parece gritante. Os policiais estão quase nus nos quesitos de amparo legal, midiático etc. Já os criminosos são, de modo bem arquitetado, apresentados como “pobres vítimas da sociedade”, quando, na verdade – além do apoio maldoso ou ingênuo (só Deus poderá julgar!) de grandes órgãos de imprensa, de lideranças políticas e/ou religiosas e de leis falhas etc. – eles devem ter muito dinheiro. Com isso, dizer que pobreza é sinônimo de banditismo, além de ser mentira – desfeita há mais de 20 anos – é forte preconceito contra os pobres, em sua maioria, honestos e trabalhadores, mesmo quando vítimas (aqui sim!) de criminosos com traços de psicopatia a governarem as comunidades dominadas (cf. “Hipermasculinidade” leva jovem ao mundo do crime. Folha de São Paulo, 12/07/2004, on-line).

Resta-nos, pois, a mim e a você leitor(a), dentro da lei e da ordem, apoiar, com orações e amizade, o trabalho lícito das Polícias Militar e Civil e da Guarda Civil Municipal. Não só na Baixada, mas também, e sobretudo, na nossa cidade. Afinal, o bom policial ou guarda, embora odiado e combatido por alguns setores da sociedade, realiza, em certo sentido, o que diz Cristo, nosso Senhor, no Evangelho: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos” (Jo 15,13).

Vanderlei de Lima é eremita de Charles de Foucauld, filósofo (PUC-Campinas, 2005) e autor do livro Psicopatas: Quem são? Como agem? Que fazer com eles? Ixtlan.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

LEGÍTIMA DEFESA EM LIVRO

A QUEM INTERESSA TRANSFORMAR POLICIAIS EM DEMÔNIOS?

PRELEÇÕES AOS POLICIAIS MILITARES