O TODO DO SER HUMANO NA TERAPIA HOLÍSTICA
Quando a Organização Mundial da Saúde (OMS),
organismo sanitário internacional integrante da Organização das Nações Unidas
(ONU), define saúde como “estado de completo bem-estar físico, mental e social,
e não somente a ausência de enfermidade ou invalidez” ela traz consigo não
somente um conceito abrangente, que busca agradar a todos os argumentadores,
mas traz sobretudo um longo histórico de reflexões e entendimentos sobre o
tema. Desde a antiguidade clássica até
meados do século XX, o processo de saúde-doença mostrou-se um complexo que vai
muito além da relação entre o ser humano e seu diagnóstico nosológico, pois
perpassa dimensões psicológicas e sociais que por muito tempo foram mal
compreendidas, e, por vezes, negligenciadas.
Denomina-se modelo biomédico o modelo
assistencial em saúde que visa estabelecer um diagnóstico clínico e, a partir
deste, rumar em busca de um tratamento. Esse modelo vigorou por séculos e –
justiça seja feita – trouxe muitos avanços ao entendimento do corpo e sua
fisiopatologia. Os anos, entretanto, mostraram que olhar somente para o padecente
como a “bela máquina que está falhando” e não entender que esse corpo tem
sentimentos, emoções, frustrações, traumas (e por isso não é somente um corpo,
e sim um ser humano) e mais, que ele interage consigo mesmo e com o meio social
que o cerca tolhe a capacidade de entender a saúde como, de fato, ela é. Ter
saúde não é somente não ter um diagnóstico clínico e não necessitar de
medicações, mas é, de fato, encontrar a harmonia dos seus sentimentos e
pensamentos e saber construir consigo e com a sociedade uma relação de
harmonia. A esse padrão dá-se o nome de modelo dos determinantes sociais do
processo saúde-doença.
Entre as várias situações clínicas, lembro-me
de, certa vez, ter atendido um idoso em um Pronto Socorro por conta de dores
nas costas. O filho que o acompanhava disse que tal dor vinha se apresentando
com frequência, pois recentemente fora diagnosticado com metástase na coluna
vertebral de um câncer de próstata. Enquanto se procedia a analgesia para aquela
intensa dor, estando eu ainda conversando com o filho, este me contou que o pai
havia feito exame de rotina e aparecera a suspeita de um câncer de próstata à
ultrassonografia. Ele, porém, recusara-se a prosseguir a investigação ou mesmo a
realizar um tratamento, pois o urologista, segundo o pai, havia sido muito “sem
educação com ele” achando que “era muito fazer toque retal toda consulta e não
pensar na honra que ele havia guardado todos esses anos”. Nunca saberemos de
fato como se deu a relação entre o médico e esse paciente, mas esse exemplo
simples mostra que não basta dizer: “esse é o diagnóstico e assim será o
tratamento”; é necessário entender o que o diagnóstico e o tratamento vão
representar para aquela pessoa e para sua conjuntura psicossocial.
Em um mundo cada vez mais assolado pelo
esfacelamento das relações intra e interpessoais que sempre foram o norte da
sociedade e sua pedra fundamental, em especial, a família, o Estado e a
religião, vive-se um paradoxo dramático: cresce-se em termos de densidade
tecnológica e padece-se atrás de inúmeros diagnósticos (sobretudo
psiquiátricos) e cartelas de medicações. Não é necessário um dom profético
muito aguçado para perceber que os transtornos psicossomáticos serão o grande
desafio de saúde do mundo contemporâneo. Nesse ponto, não vai bastar entender
que na depressão há uma diminuição da neurogênese hipocampal, ou que no
transtorno de estresse pós-traumático há um transtorno funcional do lobo
frontal. Teremos de entender que esse processo patológico possui raízes não
somente numa tendência genética, mas também tem gatilhos psicológicos e sociais
que devem ser particularizados pessoa a pessoa. Somente assim poder-se-á
instituir um tratamento e aconselhamento que, de fato, seja eficaz.
Tendo essa dimensão do processo saúde-doença e a necessidade de se olhar o ser humano como um todo, o trabalho desenvolvido pelo terapeuta holístico, eremita e amigo Vanderlei de Lima é por demais primoroso. Por definição, a palavra holístico vem do grego holos, que significa “todo” ou “inteiro”. Deste modo, o objetivo é realizar uma assistência focada no ser humano como um todo – biológico, psicológico, social e espiritual – e promover a saúde de modo completo. Certo de que muitos frutos hão de vir, fica o meu convite para que todos possam se colocar a iniciar esse processo terapêutico e desfrutar do grande tesouro que nele se encontra.
Dr. Vitor Roberto Pugliesi Marques, especialista e Mestre em Neurologia e Neurofisiologia. Oblato Beneditino do Mosteiro Nossa Senhora da Glória – Uberaba/MG
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