TODAS AS VIDAS NEGRAS REALMENTE IMPORTAM?

(São Benedito, o negro)

Prezado(a) leitor(a), há, na sua opinião, forte manipulação ideológica em torno do slogan “Vidas negras importam”? Será que todas as vidas negras realmente importam? Eis as questões a respeito das quais este artigo deseja refletir.

Em 19 de novembro último – véspera do dia da Consciência Negra, data, portanto, muito significativa –, João Alberto Silveira Freitas, um negro forte de 40 anos, depois de discutir com uma caixa do Supermercado Carrefour, em Porto Alegre (RS), teria sido conduzido por segurança do comércio até o estacionamento, no andar inferior. No percurso, que foi acompanhado por uma funcionária do mercado, o homem teria desferido um soco contra um dos seguranças, PM temporário. Longe do público, mas na frente de câmeras, João Alberto foi espancado e morto. O falecido, membro de uma torcida organizada local, foi homenageado por torcedores com o slogan “Vidas negras importam”, em alusão a George Floyd, também negro, que morreu sufocado por um policial branco nos Estados Unidos (cf. Homem negro morre após ser espancado em supermercado de Porto Alegre, Uol, online, 20/11/2021). Eis uma narrativa do fato.

Cabe notar que mesmo João Alberto possuindo antecedentes criminais por violência doméstica, ameaça e porte ilegal de arma (cf. Homem morto em Carrefour no RS tinha antecedentes criminais. Pleno News, online, 20/11/2020), seu assassinato não pode ser justificado, uma vez que no Brasil – salvo em tempo de guerra declarada – não há “pena de morte” (cf. art. 5º, inc. 47 da Constituição Federal de 1988). O que há, à revelia da lei, é a “morte sem pena”, prática pela qual criminosos inescrupulosos executam, num piscar de olhos, a quem bem desejarem.

Voltando, porém, ao lema “Vidas negras importam”, notamos que ele parece bem seletivo. Aqui ou nos Estados Unidos, nem todas as vidas negras, de fato, importam. Sim, no Brasil, dois em cada três policiais assassinados são pretos ou pardos. Mais: dos 172 policiais mortos no nosso país, em 2019, em horário de folga ou de serviço, 65,1% era negro (cf. Rogério Pagnan. Dois em cada três policiais assassinados no Brasil são pretos ou pardos. Folha de S. Paulo, 21/11/2020, online). O (a) prezado(a) leitor(a) já viu algum grande protesto de pessoas ou entidades autointituladas defensoras dos negros pedindo justiça contra os violentos criminosos que atacam policiais militares? A vida negra dos valorosos policiais não está incluída entre as que importam? Não deveria o slogan “Vidas negras importam” ser trocado por “Apenas algumas vidas negras importam”?

Essa forma parcial que exalta alguns negros e exclui outros não é, no entanto, fato exclusivo do Brasil. Neste ano, em plena pandemia, nos Estados Unidos, George Floyd, um cidadão negro de Mineápolis, foi preso por utilizar uma nota falsa de 20 dólares, e, depois, morto por um policial branco. Daí observar, de modo perspicaz, Paulo Roberto Campos o seguinte: “Hoje não há quem desconheça o caso George Floyd. Mas quem conhece David Dorn? Pouquíssimos. Também negro americano, de 77 anos de idade, era capitão reformado da polícia, e foi covardemente morto em Saint Louis (Missouri) por manifestantes apoiadores do Black Lives Matter (vidas de negros são importantes). Naquele dia 2 de junho, durante os protestos contra a morte de Floyd, Dorn queria apenas impedir os saqueios de lojas que estavam ocorrendo” (Catolicismo n. 836, agosto de 2020, p. 30). E continua: “Eis aí dois negros avaliados com dois pesos e duas medidas. Ambos tiveram um fim trágico, mas para certo tipo de revolucionário só o primeiro merece homenagens e recordações; o segundo, só desprezo e esquecimento. Não teria a vida do negro David Dorn a importância que se atribui à do negro Floyd? A explicação para tal disparidade na atribuição de importância é que a morte de Floyd serve como pretexto revolucionário, enquanto o assassinato de Dorn, não” (idem).

As vidas negras – como se vê – parecem só importar se forem aptas a causar caos social; do contrário, são esquecidas. Daí a pergunta crucial: depois dessas escancaradas tendenciosidades, você ainda confia nos autores do slogan “Vidas negras importam”?

            Vanderlei de Lima é eremita de Charles de Foucauld

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