ARMAS: TER OU NÃO TER? EIS A QUESTÃO!
Que Shakespeare nos perdoe a adaptação, mas,
nos dias atuais, poucas expressões se adequariam tão bem ao dilema proposto
pelo abrandamento das normas acerca da posse – e, talvez, em breve, do porte – de
armas de fogo no Brasil. Tal assunto, hoje, é tema quase que obrigatório em
qualquer “roda de conversa”, assumindo contornos muitas vezes apaixonados, de
seus participantes, e, não raras vezes, enveredando por sinuosos caminhos que
vão desde a política até a religião.
Por certo, todo debate é importante,
principalmente quando o assunto é polêmico, e essa matéria, em especial, tem um
lado absurdamente vital (no sentido literal da palavra), mas, infelizmente,
inúmeras vezes ignorado, ou, na melhor das hipóteses, subestimado: o fator técnico.
Possuir e portar uma arma de fogo é muito mais que um simples direito ou
condição, é quase um novo modo de vida, outra forma de comportamento e relação
com a sociedade em si. Usemos um exemplo para reflexão: dois homens adultos
desarmados discutem por um acidente de trânsito banal e um deles esbofeteia o
outro. Quais as consequências? Via de regra, haverá uma confusão generalizada a
trazer como resultado algumas escoriações mútuas, mas sem maiores
consequências. Agora, imaginem o mesmo caso, mas com o esbofeteado armado. Qual
o provável desfecho da ocorrência?
É muito comum, hoje, que pessoas leigas
perguntem a integrantes de qualquer dos órgãos de segurança: “Devo comprar uma
arma?” A resposta, invariavelmente,
é: “Depende”. Antes de qualquer reflexão sobre querer ou não querer ter uma
arma, a pergunta principal é: “Estou preparado para possuir uma arma?” Os aspectos técnicos vão muito além do
simples fator psicológico. A grande maioria da população, simplesmente, desconhece
a quantidade de instruções recebidas por um aluno de qualquer curso formador de
agentes de segurança, antes destes poderem utilizar uma arma. São exercícios
dos mais variados prismas e disciplinas que devem ser, exaustivamente,
realizados, a fim de habilitar o atirador, preparando-o para um dos momentos
mais críticos possível, o confronto armado. A preparação efetiva é condição
imprescindível para o sucesso em uma reação, tendo em vista que o infrator,
quando da abordagem, conta com vários pontos favoráveis a ele. O principal
deles é, sem dúvida, a surpresa.
Outra preocupação deve ser: “Para que eu preciso
de uma arma?” Se for para defesa
pessoal, na cidade, o mais indicado é uma arma de porte fácil, se for para
defesa em uma propriedade rural, é indicada uma arma longa. Portanto, é preciso
conhecer a especificidade da arma para saber se ela se encaixa às reais necessidades
do proprietário/usuário. Não devemos nos esquecer também de que o fato de
possuir uma arma torna seu proprietário alvo potencial de infratores ansiosos
por conseguirem tais armas, o que, inevitavelmente, expõe não só seu dono em
si, mas toda a sua família.
Uma última pergunta também deve ser
respondida: “Minha casa é segura para possuir uma arma?” Quantas e quantas tragédias envolvendo armas e crianças já não
vimos, derivadas da naturalíssima curiosidade não só de crianças, mas de
adolescentes e até de adultos. Locais adequados para a guarda de uma arma e até
um trabalho educativo com todos os moradores da casa, bem como uma vigilância
severa e ininterrupta são fundamentais.
Finalmente, cabe sugerir que a melhor decisão
sobre a posse ou não de uma arma de fogo é aquela tomada após meticulosa
análise dos fatores envolvidos e de suas consequências, sempre procurando profissionais
especializados e gabaritados para fornecerem informações confiáveis e precisas,
pois ter uma arma sem a capacitação adequada, é, certamente, um risco
muitíssimo maior do que não tê-la.
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