"NÃO DEFENDA A PM". DEFENDO, SIM!

(Beato Charles de Foucauld, evangelizador e amigo dos militares franceses na Argélia)

Há alguns dias, o autor destas linhas recebeu uma emblemática mensagem sobre a qual deseja refletir com o (a) amigo(a) leitor(a).

Alertava ela que ninguém deve defender o bom trabalho da Polícia Militar (PM), porque quem, de algum modo, ajuda a referida instituição, pode sofrer represálias que compreendem ameaças, críticas grotescas (inventadas ou não) e até agressão e morte.

O recado é claro, porém não desconhecido. Todo adversário – partidário da chamada “ditadura da mordaça” – procura agir, via de regra, em três campos: 1) pode mover uma campanha de difamação (escondida: de boca a ouvido, ou aberta: aos berros) contra quem parece lhe incomodar; 2) pode organizar a “campanha do silêncio” contra o divulgador de uma mensagem incômoda (nunca fala nele, nem no que ele prega ou escreve), tentando relegá-lo ao ostracismo ante a opinião pública ou 3) persegui-lo, violentamente, como fala o autor do alerta, com agressão física ou morte. A cada tipo de ataque, porém a graça divina e a virtude da prudência inspiram um modo certeiro e vitorioso de agir, desde que o perseguido nunca se esqueça de Deus.

Desde há muito, o “opositor” da Civilização Cristã é conhecido e vem agindo, de forma variada, conforme melhor lhe convém, no meio do povo, como bem esclareceu, com palavras muito atuais, o Papa Pio XII, já no distante ano de 1952.

Escreveu o Pontífice que tal inimigo “se encontra em todo lugar e no meio de todos: sabe ser violento e astuto. Nestes últimos séculos tentou realizar a desagregação intelectual, moral e social da unidade do organismo misterioso de Cristo. Ele quis a natureza sem a graça, a razão sem a fé, a liberdade sem a autoridade, às vezes a autoridade sem a liberdade. É um ‘inimigo’ que se tornou cada vez mais concreto, com uma ausência de escrúpulo que ainda surpreende: Cristo sim, a Igreja não! Depois: Deus sim, Cristo não! finalmente o grito ímpio: Deus está morto; e, até, Deus jamais existiu. E eis, agora, a tentativa de edificar a estrutura do mundo sobre bases que não hesitamos em indicar como principais responsáveis pela ameaça que pesa sobre a humanidade: uma economia sem Deus, um direito sem Deus, uma política sem Deus” (Alocução à União de Homens da A.C.I., em 12 de outubro de 1952).

Diante desse “inimigo ameaçador e poderoso (parece ter tudo nas mãos)” que se levanta, qual deve ser a postura do verdadeiro fiel católico? – A de São Basílio de Cesareia († 379). Sim, ele, terrivelmente, ameaçado pelo prefeito Modesto, enviado do imperador Valente, longe de ficar amedrontado, respondeu que “quando estão em jogo Deus e os interesses d’Ele, o resto não tem valor; só consideramos a Ele. O fogo, o ferro, os animais ferozes, as unhas que dilaceram a carne vêm a ser as nossas delícias e não o nosso pavor. Dito isto, podes injuriar, ameaçar, fazer tudo o que quiseres; usa do teu poder e dá a saber ao Imperador que nem com a violência nem com tentativas de persuasão nos fará aderir à impiedade, mesmo se tuas ameaças se tornarem mais violentas ainda” (Migne grego 36, 560 B).

Pouco antes, afirmara o mesmo santo – que não tinha apartamento comprado com recurso de “propina”, nem malas de dinheiro ilícito – nada temer: “A confiscação de bens não afeta um homem que nada possui, a menos que queiras esses míseros trapos que vês e alguns poucos livros, pois estas são todas as minhas riquezas. Quanto ao exílio, não sofrerei, porque não estou preso a nenhum lugar; não é minha a terra onde estou atualmente e será minha qualquer terra aonde eu possa ser levado, ou, melhor, ainda: toda terra é de Deus, da qual somos hóspedes de passagem. As torturas? Que efeito podem ter quando não há corpo?” (idem). Ele entregara o corpo e a alma a Deus!

É por ter tão nobre modelo na fé, que um verdadeiro cristão nunca se abala. Disse-nos o Senhor Jesus: “No mundo tereis tribulações, mas tende coragem: eu venci o mundo” (Jo 16,33).

Vanderlei de Lima é eremita na Diocese de Amparo